Barulhão de presos invadiu-nos à aula pondo-nos ao alerta. Olhando às grades da janela, no centro de média plateia rala e disfarçada dois discutiam ferozes. Grupo de guardas conversavam próximo, sem intrometer. Aos climas de rinha quase de luta, nas bocas alto volume acontecia, vibrava. Sem nada saber aos quadros e cadernos voltamos. De pouco, num passe, interno-fofoca nos partilhou o segredo. Flagrados pelo marido traído, fornicavam dois, um deles mulher, pelos panos sujos da comarca discreta. Descerraram cortinas aos lados e pimba, entrelaçados num gozo só. “Eu estava precisando,” desculpou-se em ato boca do ativo comedor.

Discussão pública, agora toda a cadeia já sabia. No pátio, frente a frente, os contendores no desacerto de usos e comidas de um corpo só. Posses. O que de um pertencera ao outro, sem empréstimos e aos secretos, nos fluídos incontidos das necessidades. Qual ave perdida, o objeto da disputa ia e vinha sem parar, sem lugar. Nenhum apoio de quem quer que fosse. Ali ele era um tudo e ao mesmo tempo um nada. Porcamente nomeado.

Entramos na tragédia gay. Sem ter mesmo aonde se meter, talvez até sem comarca, o pivô da discórdia vista nos procurou à escola, queria ele muito estudar. Quase nada nos disse ou dizia. Buscava um fio de apoio e de voz. Mas nosso preconceito o repelia, o rejeitava. Nenhuma das sábias mãos assim se projetou. Ele ou ela, iniciei a perguntas em tons de pilhérias; masculino ou feminino, por sarcasmos de falsa dúvida. Rapazinho branco miúdo e indefeso, tudo ali na Educação também o condenava; o evitavam naquele universo machista. Vendo-se assim, levantou e se foi. Sumiu. Para sempre entre grades e dores.

0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *