À memória de Aluísio Azevedo, autor de “O Cortiço”.

“Helicópteros já estão autorizados a realizar incursões nas favelas”; leio em manchete ou quase na folha do jornal em exposição na banca. Que na hora da leitura mais me pareceu um edito real condenatório e invasor. A favela como território sempre inimigo. Que também em outro sentido o favelar, a favela nunca pode deixar de ser essa inimiga de quem a ataca mortal. Isto, diante de e em toda morte por vir ainda e a já anteriormente executada, na ordem dos gabinetes superiores e distantes. E esta sentença condenatória de agora, depois de rápida suspensão pela pandemia ainda em curso, nos veio pela mão de “magnânimo” juiz do Superior Tribunal Federal. Desconfio, que a canetada jurídica tenha sido acertada antes no secreto, pelos objetivos e interesses tão criminosos do Estado Brasileiro, como qualquer outra. Assim, o magistrado só assinou um papel, pela ordem natural das coisas.

Antes, há uns poucos meses atrás, quando eu soube da suspensão das ditas incursões aéreas nas favelas, gostoso refrigério me surgiu por dentro; agora todos poderão viver e dormir sossegados, mesmo depois de um dia inteiro e exausto de tanto trabalho. Mais ainda, toda e qualquer vida, até as galinhas e cachorros, incluso nesse bolo animal nós pessoas, podemos e poderemos nos sentir num outro dia, num outro tempo; sem o peso consciente e inconsciente do indesejado terror do que vem mortífero de cima sobre nossas cabeças. Houve um instante de horizonte, de refrigério horizonte. Então, alguns e muitos corpos até se endireitaram se aprumando mais, num olhar de outras estradas. Quem sabe alguns sempre se lembrarão, outros logo esquecerão. Aqueles no reviver, estes na sina de que a trégua não passou de um grande engodo, pois tudo enfim voltou. Ou seja, a rotina de Estado que se montou e funciona na favela, só da favela. De tiros já bem naturais e mortes determinadas.

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