Sou só um bandido que pensa. E talvez por este pensar é que seja realmente bandido.

Vou agir no crime até morrer. Entenda o leitor esse meu crime como quiser; penso nele conforme uma arte. Entremos pois ao curso da letra e não do rio. Ontem com amigos conversarmos sobre prostíbulos, pernas abertas e muitas vaginas. Riscos altos assim de paixão ocorrem sem os sabermos. E no meio dessas carnes todas e gozos falamos de favelas, bandidos e muitas prisões. Foi então que aconteceu; dissemos de juízes criminais. E num saber de muito mais saber alguém nos falou: juiz no Brasil decide sobre aquilo que não sabe. Então pensemos adiante o que isto quer dizer ou é.

Nos meus tempos de condenação nas prisões fechadas, aprendi que fóruns e sentenças são coisas mais que distantes, separadas eternas de nós; de nós presos infernais e sujos. Que embora isso de fóruns seja mais que referido, existe por nós bandidos, por causa da nossa existência, ele nos pega ou toca com luvas de grande nojo e higiene. Em que magistrados e todos os seus, até o mínimo serventuário que se posa de juiz, nada sabem de favelas e periferias. E sempre será para eles ofensa mortal desejarmos que conheçam, que saibam. Talvez pra quê, pensem eles. Então juízes não sabem julgar pelo simples desconhecimento do que olham: o preso e todo o seu mundo favelar que ele traz no corpo, no olhar. Coisas estas que não cabem em nenhuma folha de processo. Assim julgam na visão só de um papel de domínio pela burocracia.

Sabemos que tudo isso acima está na conformidade do Estado; em que ser outra coisa seria mudar nosso mundo daqui; pois que um julgamento, qualquer que seja ele, é o ponto de tomada de direção de todos os caminhos. Aferida esta consciência, boca sábia do Direito na conversa, nos esclareceu que os cargos do mandarinato jurídico estão reservados só a uma classe de pessoas: os bem nascidos filhinhos de papai com boa mesada ou algo assim; que nunca escreveram o nome favela em seus cadernos e teses. Até também porque não por acaso, escrever favela em provas de acesso a cargos da magistratura, fica-se no automático eliminado por um pecado de raiz pela justiça brasileira.

Depois das xoxotas e dos juízes, ficou-nos então a pergunta: o que é o julgar e se ele realmente existe. Ou se esse não saber julgar como dito, já seja a própria condenação perpétua.

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