A todos os meus parceiros das prisões por onde passei.

As coisas aconteciam sempre erradas para mim; ou vinham muito duvidosas e dadas ao acaso do que pela minha ação. Nessa época talvez que eu acreditasse em horóscopos vagabundos de jornal. A vida me vivia num marasmo improdutivo eterno. Minha ação não produzia nada, certamente por nem existir.

Já um pouco meio de tempo misturado à primeira e grande quadrilha da vida, o coletivo penitenciário do III, dei-me na besteira inicial de começar a escrever o primeiro livro. No início das primeiras páginas já maduramente escritas, eu me perguntava se seria seguro revelar minha primeira então magnífica e árdua ação de agir escritor. Como nos tempos anteriores de incapacidade e falta de segurança, caía no pensamento de que dizer aos outros o que se faz dá azar, olho grande e os invejosos odientos sempre de plantão te derrubam. Só que sem pensar mais, coloquei-me a difundir o que fazia, escrevia um livro sobre nós e a bandidagem do III, do mundo. Mas isso aconteceu, o tornar pública a obra ainda na produção, somente depois das primeiras páginas estabelecidas. Porque antes delas, já acontecera o concluio criminoso, o fechamento da cumplicidade, enfim a arquitetura da ação periculosa, com a nossa pequena e modéstia então quadrilha, meus alunos bandidos da escola. Então a propaganda da futura história ainda em formação, deu-se já num campo todo dominado pelo nosso crime de escrever. Como num banco já assaltado, estávamos com os malotes cheios ainda na saída, mas já era, perderam. Pois mesmo nos vendo, a polícia não nos alcançaria mais. Escrever nosso primeiro livro foi uma espécie de esnobe criminoso.

No final da obra escrita, todo o coletivo da cadeia já estava fechado com as mãos do professor-bandido que escrevia. Trabalho grupal periculoso. Coisas então aconteceram e acontecem. A primeira e principal há quase vinte anos atrás, foi que minha mão necessitava de uma dose de periculosidade que só os bandidos me deram, ensinaram. Ou então na química da mistura nas grades, minha alma se embriagou para toda a vida com as inteligências no convívio. O livro, teimoso ainda perdura em leituras pela internet. Outras coisas muitas mais vieram, porém deixo-as ditas nas outras crônicas, para o crime do escrever durar a vida inteira. Vejo hoje, que o bandido encarcerado me envenenou da coragem que me faltava.

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