Aos penitenciários, amigos meus.
Quando entrei eu sabia dos cuidados. Antes porém com o desconhecido que poderia e estava fora e não dentro. Pois que todos de lá, sem erro de marcação já se encontravam individualizados, rotulados, carimbados por uma marca de vida. A imposição das grades diante dos olhos e entre mim e eles, a identificação.
Mas os ferros e aços de contenção podiam ser transpostos, figurados na alma e corpo de cada um nos corredores e celas. Eu também que vinha de fora precisava e queria fugir. E assim fomos entrando em outros mundos. Deixando-nos envolver pelas manifestações e marcas das nossas histórias. O que é ser amigo sempre em jogo. E aonde estávamos, um poço intenso de manifestações delinquentes. Aos tratos e relações íamos tirando as nossas máscaras; a minha de professor senhor da ordem e do saber, a deles de internos delinquentes. E então fomos nos entrechegando.
A delinquência dos guardas, misturada a uma certa moral e pureza sempre postas à frente, num certo tempo desorientou-me um pouco. Mas precisávamos prosseguir. No cipoal carcerário íamos traçando a nossa busca. Não o imposto por entidades e tradições, mas o que pudéssemos e nos viesse ali, na clareza e mistérios das nossas almas. E avançávamos quando deixávamos de ser professor e eles bandidos, em alguma só pessoa que nascia. E a nossa igualdade vinha com ela, descoberta e ensinante, nos respiradouros da vida. As marcas das diferenças sociais, grades da alma, nos ditando distanciamentos, nojos e erros, os destruíamos nos achegares.
Aonde estamos realmente nós. Esta a pergunta a ser esmiuçada, perseguida sem cansaço. Estamos sem o outro que somos nós mesmos. Nunca fiz favor nenhum sendo amigo dos meus amigos presos, esclareceu-me certa voz de inteligência. Eles também são alma, trazem uma dentro de si. E nisto iguais a nós.
Havia ali, naquelas grades dentro das grades, uma luz que nos guiava. Nos deixava correr, avançar. Estávamos num brilho de certa soltura, como de alguém que finalmente vê.
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